segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A Vez do Convidado - Paulo Jorge Teixeira

Tal como prometido, aqui fica o primeiro "A Vez do Convidado", um espaço onde um convidado da Comunicatessen publica uma "posta" da sua autoria, em total liberdade.
Paulo Jorge Teixeira é um dos recentes dissidentes do CDS. Figura marcante para alguns antigos militantes da Juventude Centrista e do CDS, autarca em Rio Tinto/Gondomar, Presidente da Associação de Jogos do Norte e conhecido pelos anos e anos que dedicou ao Associativismo Académico no Porto, figura maior da história da Federação Académica do Porto e marcante na história de várias Associações de Estudantes da Universidade Católica do Porto. Fundou e ajudou a fundar (e manter) inúmeras associações cívicas. Amigo do seu amigo, foi um dos meus Mestres. Nada melhor do que começar este espaço de opinião com um amigo que considero como um irmão.
A palavra ao convidado:
As perguntas que nunca respondemos

Dizia um grande senhor da política francesa, Drieu de la Rochelle, que antes de mais viver é comprometer-se.

Isso espelha, reflecte, e é fio-de-prumo da actividade que todos nós que gostamos de fazer politica assumimos quando nos vinculamos a um conjunto de valores e princípios, sob os quais estamos dispostos a lutar e a pugnar pelo sucesso.

De peito aberto e com a vontade de mudar o mundo, com a ilusão e o empenho dos nossos poucos anos. Em partidos porque a isso nos condena(va) o sistema vigente.

Vindo de uma geração pós 25 Abril naturalmente pude ter a ventura de poder optar.

E a minha opção imberbe foi, naturalmente, a de negar, e a lutar contra um Pais sem rumo, sem unidade, e sem um sentido último que nos unisse a todos enquanto Nação no essencial antes de nos dividir e sujeitar a um sistema partidário ele próprio negador da ideia de Democracia, como nos chega dos arcanos Gregos e Celtas.

Estes foram os meus primeiros combates.
Paralelamente, e ao mesmo tempo, fui procurando saber, ouvir e ler.
Discutir e procurar beber as fontes.
Para depois em liberdade poder optar, fundamentando o verbo numa opção mais coerente.
E as ideias imberbes sedimentaram se num discurso reflectido, pensado e guiado por valores e respeito pela opinião contraria e adversa.

Estes combates formaram a minha maneira de ser e de pensar.
Procurar o sentir da rua e o pensar dos académicos para na sua síntese encontrar a maneira de fazer crescer as minhas ideias.

A admiração por Amaro da Costa que tive a ventura de conhecer ainda miúdo e a votação contra a constituição de 76 viraram-me a atenção para o CDS.

A opção estava feita.

As ideias tranquilas e sérias do Partido inspiravam-nos a todos nos combates para mudar o panorama nos Liceus do Porto.

Estratégia de sucesso, combates telúricos e lutas capazes de formar amigos para sempre e adversários de respeito.

E os valores e a sua defesa lá estavam.

A liberdade que herdamos no código genético dos nossos pais.
A tolerância e o respeito pelo espaço de cada um que nos rodeia.
A força da herança dos valores que nos foram transmitidos e que passam as épocas, as conjunturas e as pessoas.

Valores pessoais como a honra, o valor do trabalho, a humildade de não saber tudo e ter sempre razão.
Guiado sempre por uma máxima que ouvi desde pequeno “o mundo só tem o sentido que nós lhe demos”

Tornado militante do Partido com Manuel Monteiro acreditei que o mundo iria mudar.

Mais que conquistar lugares ou espaço pensei que a mensagem ia passar.

Porque mais importante que ser de esquerda ou direita (tudo conceitos inventados pela Revolução Francesa, a fonte de todos os males), o importante era chegar às pessoas e faze-las abrir os olhos,
A pensarem por si, a não a se sujeitarem a uma passagem dos quadros mentais do Estado Novo para os quadros mentais de uma esquerda socialista e à procura do poder pelo poder.

Empenhei-me a sério. Fiz parte de uma geração que via chegada a sua hora. Pelo País e pelas universidades e faculdades, uma a uma, víamos todos os dias crescer em número e em escolas a força das nossas ideias.

Mas esse empenho levou-me a ver como era a vida diária de um Partido.
Essa não era como nos livros. Não era todos juntos para o mesmo fim.

Mas sim, todos juntos para o meu fim, o meu sucesso.

O individualismo, esse filho mais novo dos pais liberalismo e socialismo era a matriz transversal do sistema no seu todo.

Vá lá, pensei eu, era uma fase. Era uma etapa para o reequilíbrio do sistema. E fui me deixando estar.

Não com o empenho de antigamente, mas com vontade de ver triunfar as ideias que julgava serem também as minhas.

Motivado por Giorgio La Pira, o pai da Democracia Cristã, que nos seus ensinamentos nos diz que tudo o que quer subir tem de convergir dentro de uma matriz enformada pela liberdade e pela responsabilidade, acreditei que como no filme amanhã seria um novo dia. E fiquei.

Completamente seduzido com o discurso de Ribeiro e Castro, o “completamente livre e completamente solto”, voltei ao trabalho.

Depois assisti ao trabalho diário das hordas do mal.

A deturpação, o engodo, as falsidades e a mentira. Mesmo que não fosse isso que os ouvidos ouviam, a vista via.

Mas era assim que era transmitido.
E já sabemos," mentira repetida mil vezes…."

E depois aconteceu Óbidos. Nesse dia passei o meu Rubicão.

O caminho estava já com um fim á vista, a minha Roma estava já sob alcance da mesma.
Faltava só contar, e decidir qual a duração e a velocidade da viagem.

Afinal estava num partido tornado o último reduto do culto da personalidade e não dos valores e princípios em que acreditava.

O grande educador, agora não da classe operária mas das estátuas de si próprio, estava ali para nos dizer o que fazer e como devíamos pensar.

Não, para isso estava num partido de esquerda.
Credo, pensei eu …. Estou num partido de esquerda.

E depois vi a intimidação e os cadernos eleitorais a que ninguém tinha acesso.
Lembrava mesmo o trabalho de Vitorino Magalhães Godinho pai na primeira república.

Afinal os netos do Afonso Costa também estavam no meu partido.
Aí decidi que chegara o tempo de sair.

Recordei, então, as palavras de uma grande senhora que ouvi uma vez num fim de tarde de verão, Cândida Ventura “a gente sai e muda quando a dor de ficar é maior do que a dor de sair”.

Era isto mesmo.
Para ser a cereja em cima do bolo aconteceu um momento estranho e demolidor nas minhas já parcas ilusões .

No dia da votação dos casamentos homossexuais no Parlamento, para mim e julgava eu para todo o partido, bandeira e fonte de unanimidade interna, o que fez o meu presidente?

Foi fazer campanha para os Açores.
Que raio de sinal damos ao nosso eleitorado?
Somos afinal o quê?
Que defendemos?
Sem receio de sermos politicamente incorrectos, estamos contra.
Mesmo contra.
Afinal a cultura dominante é mesmo a dos nossos adversários?

Não poderemos viabilizar um governo PS ou PSD.
Não é mesma coisa.
Os motivos que nos levam a sair, a mim e a alguns amigos, são os mesmos.

Queremos fazer politica.
Temos orgulho em dedicar o nosso tempo livre a procurar encontrar trilhos de felicidade e de realização interior a todos os nossos concidadãos.

Os valores que defendemos fizeram que o lugar que ocupamos aqui em Rio Tinto fosse colocado à disposição do Partido.

Não porque achemos que os lugares são dos partidos, mas porque em Gondomar respira-se um ambiente de liberdade.

E a esses companheiros devia a coerência de os deixar seguir o rumo traçado e sufragado. Entenderam que devia continuar.

Muito bem. Continuarei, como independente do Partido mas vinculado como no primeiro dia na defesa dos valores que nos trouxeram aqui.

Como no primeiro dia continuo a acreditar que é tempo de plantar macieiras.
Se não for para eu colher os frutos ficará para os vindouros.

Podem contar comigo aqui em Rio Tinto.
Para fazer o que não quiseram que fosse feito.

O jornal, a intervenção pelas populações.

Como dizia Churchill: “resistiremos, nas praias, nas estradas, nas vilas, lugares e cidades”.
Nunca nos renderemos.
Nunca.

Continuaremos, dia a dia, a trabalhar por Rio Tinto e por Portugal.
Guiados pelo dito dos antigos “que a força não falte a quem procura a verdade”
Paulo Jorge Teixeira

1 comentário:

Espectadora Atenta disse...

Klap!Klap!Klap!Klap!
Fantástico!
Parabéns Paulo jorge!
Acrescento só duas breves citações de Churchill: "A desvantagem do capitalismo é a desigual distribuição das riquezas; a vantagem do socialismo é a igual distribuição das misérias" e " Vivemos com o que recebemos, mas marcamos a vida com o que damos"

Como vê, o Paulo Jorge está no bom caminho:))

Abraço!