O Douro é uma das mais belas regiões da Europa.
Uma afirmação forte para começar. Mas sincera e verdadeira. Quem não a conhece não sabe o que tem perdido. Conheci o Douro aos 18/19 anos de idade. A primeira vez que desci a estrada que liga Mesão Frio à Régua fiquei mudo de espanto. Depois, tive que seguir pela estrada que liga a Régua ao Pinhão e as palavras sumiram-se. Não refeito, subi em direcção a Valença do Douro, ponto de passagem até ao destino final. Recordo como se fosse hoje o deslumbramento.
Ao longo dos anos tenho tido a felicidade de viajar por esse Mundo, não tanto como queria mas dentro do possível. Ainda falta conhecer muito. Porém, poucas paisagens encontrei tão ou mais belas que o Douro. Em Portugal, apenas o Alentejo se aproxima. Reparem, aproxima. Mas não se compara.
Desta inacreditavelmente bela região conheço duas histórias de amor que dizem tudo. A primeira passou-se com um dos maiores empresários de Espanha, personagem fascinante que me proporcionou um dos melhores momentos da minha vida. A sua paixão pelo Douro começou numa viagem de negócios ao Porto. O objectivo era comprar uma empresa nacional da sua área de negócios. O destino levou-o ao Douro. Amor à primeira vista. Mesmo contra a vontade da família, investiu fortemente no Douro, em algo completamente diferente. O Douro agarrou-o para sempre.
O mesmo aconteceu com um grande empresário hoteleiro francês. Quando conheceu o Douro, ficou preso pelo coração. Nunca pensou investir em Portugal mas depois deste encontro imediato, comprou uma propriedade e está a construir um dos mais luxuosos hotéis de Portugal, em pleno Douro Vinhateiro. Quando lhe perguntaram se a falta de acessos condignos era um óbice, afirmou que antes pelo contrário, quanto mais "secreto" for o Douro, melhor.
Mas não é sobre a beleza paisagística do Douro que vos quero falar - o Português não tem palavras suficientes para descrever a magia deste pedaço de paraíso que só visto se compreende. Quero antes partilhar convosco uma das novas valências da região, um restaurante.
As gentes do Douro, habituadas desde o berço a lidar com esta paisagem e tendo nos seus pais e familiares os obreiros, a sangue, suor e lágrimas desta coisa descomunal, nem sempre compreendem o "maná" turístico ao pé da porta. Consequentemente, não era fácil para o viajante, turista ou não, encontrar um local de excelência gastronómica - sobretudo no chamado Douro-Sul. Nos últimos anos, graças à visão de alguns empresários, este gigante adormecido começou a despertar (neste ponto, Mário Ferreira foi o primeiro grande impulsionador da mudança). Primeiro foi o Hotel Vintage House no Pinhão (com um restaurante demasiado elitista e conservador), logo seguido da Pousada de Mesão Frio (inconstante). Mais tarde, em plena Régua, nasce um dos templos gastronómicos da região, o restaurante "Douro In". Claro que já existia o "Cepa Torta" em Alijó, mas ficava afastado desta zona. Felizmente, os proprietários do "Cepa Torta" arriscaram uma nova aventura: o restaurante D.O.C. no Cais fluvial de Folgosa do Douro, a meio caminho da estrada (E.N. 222) que liga a Régua ao Pinhão. A excelência gastronómica chegava, por fim, ao Douro Vinhateiro.
Conheci o D.O.C. numa das constantes visitas que faço ao Douro graças a ter casado com uma “duriense”. A primeira vez que o vi, desconfiei. Tinha sido inaugurado recentemente e, pela decoração, pensei que estava perante mais um daqueles casos de muita parra e pouca uva. Mesmo assim, no regresso a casa, aceitei arrisquei. Uma decoração moderna, estilo "Paulo Lobo" (não sei se foi ele mas parece saída das suas mãos). Os preços não são meigos se comparados com os praticados na zona. A lista de vinhos é superior. O atendimento simpático e competente. O seu proprietário, Rui Paula, sempre atento. Não vos vou maçar com grandes descrições sobre o repasto. Ao contrário de quando o visitei, agora não faltam descrições sobre as iguarias do D.O.C nas revistas e jornais nacionais (a última das quais por Francisco José Viegas, uma autoridade, na revista NS deste Sábado). Apenas partilho convosco um sentimento: entrei com duas pedras na mão, desconfiado e pronto para ser “roubado”. Saí completamente convencido, fascinado e satisfeito. Penitencio-me por ainda não ter visitado o “Cepa Torta”, a casa-mãe desta obra-prima da gastronomia duriense.
Na altura, seguindo a máxima do empresário francês de que vos falei, preferi ficar em silêncio, guardando segredo desta maravilha com medo que a ofensiva das “massas” a estrague. A comunicação social, em especial os “especialistas” na matéria, preferiram amplificar a coisa. Rendo-me. Com a secreta esperança que o D.O.C. não se estrague por deslumbramento. É que eu pretendo fazer dele poiso particular a meio da viagem…
Já nada falta ao Douro, em especial ao Douro-Sul, para que o leitor o não visite. Mexa-se e aventure-se, o Douro espera por si. Vai ver que não se arrepende.
FMS