sábado, 21 de abril de 2007

Lila Downs ao vivo em Guimarães:



Sempre ouvi dizer que os gatos têm 7 vidas. Como sempre tive gatos na minha vida, a experiência ensinou-me que realmente os gatos têm, no mínimo, sete vidas.

Lembrei-me deste pormenor da natureza enquanto assistia, verdadeiramente deliciado e deslumbrado, ao concerto de Lila Downs, esta noite, na Casa da Música. Lila é como uma gata, não sei se com sete vidas mas verifiquei, in loco, com sete vozes. Quis o destino, e a exasperante falta de gosto musical da pátria, que mesmo com apenas duas semanas de antecedência ainda tivesse a possibilidade de comprar bilhetes para a primeira fila. Nunca tal me tinha acontecido. Aliás, quando faltava apenas uma semana, acreditando na página web da Casa da Música, ainda só se tinham vendido algumas dezenas de bilhetes, talvez uma centena.
Por isso, calmamente, cheguei já perto da hora do espectáculo. Primeira surpresa, muita gente. Segunda surpresa, público de todas as idades. Literalmente. Ouvi dizer que Lila Downs foi ao Herman SIC. Talvez por isso. Ou a velha máxima de deixar tudo para a última hora. Bem, isso pouco interessa para o caso.

Pouco passava das 21h quando Lila Downs e os músicos que a acompanharam irromperam pelo palco. Começava uma noite mágica. Entrega total de todos os músicos, Lila Downs e as suas várias vozes ecoavam pelas paredes da Casa da Música, o som, para quem está habituado ao Coliseu (uma miséria) não esteve nada mal. O público entregue. Tudo se conjugava para uma noite inesquecível. Os sons mexicanos de “La Cantina – de copa em copa” misturados com músicas de outros registos, envolviam-nos como o nevoeiro da foz do Douro quando serpenteia por entre as pontes, rio fora. A voz de Lila Downs, não me canso de ouvir, muda de tom com uma facilidade incrível. Tal qual um gato, no caso uma gata, os sons produzidos por esta mexicana, enroscam-se nos nossos ouvidos, ora acalmando-nos, ora levando-nos para outra dimensão. É o México e toda a América Latina em sons, numa noite de Verão, nesta fantástica Casa da Música – um enorme bem-haja a quem decidiu construir esta pérola!

Uma voz, minto, sete vozes, todas diferentes: forte e frágil, chorosa e vibrante, doce e amarga e deliciosa, tudo num só ser.

Lila Downs, tal como Lhasa de Cela, Saoud Massi, Mariza, Teresa Salgueiro, entre outras, faz parte daquele grupo restrito, mesmo muito restrito, de mulheres possuidoras de uma voz própria dos Deuses. Herdeiras de Piaff ou de Amália, daquelas que, independentemente de se gostar ou não do registo musical, nunca se esquece a voz. Mas, Lila Downs, junta a esta dádiva o facto de, provavelmente noutra vida, ter sido uma gata e encarnar agora como humana adaptando uma das características dos bichanos - Lila tem sete vozes e provou-o esta noite na Casa da Música.

No final só queria duas coisas, fumar livremente um cigarro (nisso o Coliseu ganha aos pontos…) e beber uma Tequilha ao som de Lila Downs e outras divas mexicanas (que as há) numa qualquer cantina na Cidade do México, voando de “copa em copa”. Limitei-me ao cigarro…

Por isso, caros amigos, aproveitem e não percam, a 26 de Maio próximo a nova aparição de Lila Downs (que Maio é mês destas coisas) desta feita em Guimarães, no Centro Cultural Vila Flôr.

(Texto publicado em Julho do ano passado no Quando Calhário, adaptado)

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