quarta-feira, 25 de abril de 2007

Ainda te Lembras? - de AC



Num blog de um amigo de longa data, encontrei este seu texto sobre o 25 de Abril. Não resisto a publicar aqui. Sem referência ao seu blog que, segundo ele, é mais do que privado e só alguns, poucos, sabem da sua existência. É pena, porque vale bem a visita.



"
Ainda te lembras?

Ontem fomos para a Baixa, passear. Tretar. Era feriado. Fomos de autocarro (a carta ainda era uma miragem).

Apanhamos o 9. Nunca percebi essa do "apanhar um autocarro".
Porquê apanhar? Logo um autocarro, mas enfim.

Na Praça uma multidão com bandeiras. Vermelhas. No meio do jardim, um palco. Era o Sérgio que estava a cantar, não era? A malta andava de cravo vermelho na lapela. Nós conversávamos. Tretavamos, melhor dizendo. Eu contava-te o que fora o 25 de Abril. O que fora? Bem, o que eu julgava que tinha sido, segundo aquilo que ouvia e o pouco que aprendera nas aulas. Lembro-me que comemos farturas, bebemos café e fumamos uns valentes cigarros - os teus eram SG Filtro. Os meus eram dunhill. Quer dizer, nesse dia eram esses, para armar. Para impressionar. Normalmente eram SG Gigante. Mas com Gigante não se impressionava ninguém...

Depois fomos andando. A pé. Estava um dia propício a andar na rua. Só paramos naquele bar, não sei se te lembras, relativamente perto daquela terra especial que tu sabes qual é. Broa com Presunto. Já lá tinha ido antes e sabia da especialidade. Broa com Presunto e Manteiga.

É verdade, manteiga. Quase que me esquecia dela. Logo eu que a ponho em quase tudo o que como.

Eles festejavam o 14º aniversário do 25 de Abril. O dia da Liberdade. Nós não festejávamos nada. Apenas andávamos juntos de um lado para o outro. Sem compromissos e com o dinheiro contado no bolso. E que contado ele era. Havia muito fim do mês em tão pouca mesada.
Quem diria, eles a festejar a Liberdade e nós, sem saber, a antecipar a nossa Primavera.

Eu não sei se tu ainda te lembras mas aquele foi o penúltimo dia do resto das nossas vidas. É por isso que eles festejam o 25 e nós, tolos, festejamos o 26. O nosso dia. A verdade é que, acasos da vida, não fora essa véspera da nossa vida ser feriado e, se calhar, não estávamos aqui, hoje, a festejar o nosso vinte e seis de Abril. O melhor dia das nossas vidas.

Ainda te lembras?"
AC

1 comentário:

Espectadora Atenta disse...

Belo texto, Sr Sá! Gostei...