"No grande esquema industrial concebido pelos patrões das empresas de tempos livres, cada um constata que a informação é antes de mais considerada como uma mercadoria, e que esta característica prevalece, de longe, sobre a missão fundamental dos media: esclarecer e enriquecer o debate democrático" - Ramonet, Ignacio, "A Tirania da Comunicação", pág. 8
O Professor de Teoria da Comunicação, Ignacio Ramonet, levanta no seu livro "A Tirania da Comunicação" um conjunto de questões que se pretende, sucintamente, analisar.
O advento das novas tecnologias da informação e dos novos conceitos económicos nesta área, arrastam consigo novos problemas e desafios. Talvez a visão pessimista, quando não catastrofista, do autor possa ser a mais correcta ou, pelo menos, aquela que aparenta uma maior proximidade com a realidade. Mas será mesmo assim? Como refere o autor, evocando Montesquieu, existem três poderes tradicionais, o poder Legislativo, o poder Executivo e o poder Judicial, aos quais se juntou, mais tarde, o chamado quarto poder, a Imprensa a quem compete (ou competia, seguindo o autor) a "missão cívica de julgar e avaliar o funcionamento dos três outros" (ob. citada, pág.39) classificação que, em seu entender, já não se aplica visto que, continuando a seguir o pensamento de Ramonet, a Economia é hoje o primeiro poder sendo o poder Mediático aquele que surge em segundo lugar.
Surge, assim, um novo poder fruto de uma intensa globalização que catapultou o papel da economia e em especial das grandes empresas multinacionais, para um lugar de destaque na sociedade. Será mesmo assim?
Afirmar que a imprensa está remetida a um lugar de pura subserviência ao poder económico, tal como ontem se afirmava que estava na dependência do poder político, chegando ao ponto de apelidar os jornalistas de hoje como "os novos cães de fila" deste novo poder do mundo, dominado por um jornalismo reverente e quiçá acéfalo e acrítico, pode parecer óbvio mas não deixa de ser, mesmo que relativamente, falso.
É esquecer que existe uma nova realidade, um conjunto de novos instrumentos e uma explosão de novos tipos de comunicação e, forçosamente, de jornalismo: A web e em especial, a Blogosfera.
O jornalismo já não se limita aos tradicionais meios - Jornais, Rádios e Televisões. Ramonet tem razão quando critica este "estado" comatoso dos media tradicionais mas, como dizia o poeta, "O Mundo pula e avança" e fruto desse paradigma apresentado, o público (ou pelo menos um determinado tipo de público, mais exigente e por isso menos influenciável) correu a adoptar a blogosfera e a internet como poiso mais seguro de encontro da diferença e de uma imprensa que julga e avalia os restantes poderes.
Não é por acaso que Hillary Clinton escolheu um site para anunciar ao mundo e, em especial aos americanos, que se propõe a candidata do Partido Democrata nas próximas eleições presidenciais americanas. E que dizer da incursão bem sucedida de Marcelo Rebelo de Sousa no You Tube? É a confirmação, se tal fosse necessário, da força destes novos veículos de informação. Espaços de enorme liberdade (as vezes de enorme libertinagem, é certo) em que os jornalistas não são, pelo menos por agora, objecto de grande pressão.
Em suma, Montesquieu continua actual, apenas necessita de uma pequena revisão para novos acrescentos, dois novos poderes emergiram entretanto, o mediático e o económico. Falta saber qual deles é, na realidade, o primeiro poder. Mas será isso importante? Se for, então lembremos que mesmo o poderoso senhor Bill Gates, continua a precisar dos media para divulgar os seus novos produtos e uma crítica negativa não vem nada a calhar para o negócio...